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Crítica: Ela Disse, Ele Disse


Não é preciso dizer que as comédias românticas adolescente se tornaram um clássico do cinema moderno. Elas normalmente são descompromissadas e com temas bem comuns dessa fase da vida, e muitos desses filmes acabam sendo reconhecidos por marcar uma geração (vide Meninas Malvadas, 10 Coisas que eu Odeio em Você e O Clube dos Cinco), que lembram com uma certa nostalgia de como descobriram essas obras. Ou seja, a palavra inovar praticamente não existe quando se trata de comédias adolescentes. As produções que resolvem manter as características mais clássicas, porém dando novos olhares para retratar essa geração, conseguem se sair melhor. E é bem aí, que entra Ela Disse, Ele Disse, filme inspirado no livro de Thalita Rebouças.


Acompanhamos Rosa (Duda Matte) que vai começar o ano letivo em uma nova escola e seu maior objetivo é se enturmar e encontrar amigos. Essa é a mesma ideia de Leo (Marcus Bessa), que também é calouro do local. O filme faz um trabalho interessante ao mostrar as diferenças sobre como meninos e meninas encaram essa situação. Enquanto Rosa fica extremamente preocupada com o visual e tem uma visão pessimista de como será o dia, Leo não é muito vaidoso e acredita que fará amigos rapidamente.


O núcleo que faz parte da escola merece também uma atenção, principalmente no trio de amigas que a nossa protagonista forma com as personagens Carol (Giulia Ayumi) e Luana (Maria Cecília Warpe). Mesmo que boa parte das conversas sejam sobre o crush que Rosa tem em Leo, elas conseguem encontrar tempo para outros divertimentos além dos garotos, algo que acaba ajudando Rosa a se descobrir e também descobrir qual o seu lugar dentro da escola. O trio fica mais divertido por conta da atuação de Ayumi, que faz o papel daquela amiga sincerona e que diverte por falar aquilo que todo mundo tem vontade, mas morre de medo. Principalmente quando se trata de Júlia, personagem da Maísa e “vilã” do filme.


Vale citar que a produção acaba desconstruindo por total o conceito que muitos esperariam de uma antagonista de um típico filme adolescente. Júlia é apresentada como uma garota repleta de inseguranças, como qualquer outra menina dessa idade, que acaba usando o seu visual e sua popularidade dentro da escola como uma barreira para esconder isso.


Além disso, Ela Disse, Ele Disse não apresenta uma “vingança final” ou faz com que Rosa fique por cima de Júlia, como se fosse um troféu por tudo que Júlia a fez passar ao longo da trama. A produção acerta em cheio em mostrar os sentimentos das duas personagens e dar uma redenção à “vilã” sem soar forçada, mas totalmente típica de uma adolescente que está aprendendo a lidar com sua autoestima. Outro ponto que é bem atualizado é a maneira que Leo lida com os valentões da escola. Quando o garoto é confrontado para uma possível briga, fica nítido que ele está incomodado e mostra que nem todo garoto precisa resolver os problemas com violência.


As atuações de Duda Matte, Maísa e Marcus Bessa são os grandes destaques do longa-metragem. Duda e Marcus conseguem ter uma boa química em cena, enquanto Maísa chama a atenção por viver um antagonista bem diferente dos papeis que estava acostumada a fazer nas novelas do SBT ou até mesmo em Cinderela Pop. Já os veteranos são bem representados pelas atuações de Maria Clara Gueiros, que está demais no papel da diretora linha dura Madalena, Ângelo Paes Lemes, que mesmo tendo poucas cenas consegue dar conta do recado, como um pai ausente e a presença da estreante, Fernanda Gentil, que com todo seu carisma e charme, faz aquela mãezona que está sempre pronta para dar aqueles conselhos quando mais precisamos.


Além disso o filme não perde tempo e traz com um certo frescor o tema da representatividade. Nos momentos finais, temos uma sequência muito interessante e que mostra que o amor merece ser celebrado, em todas as suas formas e jamais ser escondido. Colocar isso de uma maneira tão delicada, leve e natural em um filme adolescente é pra aplaudir de pé e acaba combinando perfeitamente com essa geração que está cada vez mais longe dos conceitos do passado.


Ela Disse, Ele Disse é a prova que o cinema adolescente brasileiro não precisa de comédia apelativa para fazer sucesso. Com uma trama atual e com atuações acima de outras produções do gênero, é um filme que merece ser visto por todos. Certamente você vai sair bem mais leve do cinema.


Nota: 8.5/10

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