Você já parou para pensar em um filme de terror onde o grande vilão não
é nenhum psicopata ou um monstro vindo do espaço, mas sim o preconceito velado
contra os negros? Pois então, a mente criativa do roteirista e diretor Jordan
Peele nos traz uma trama bastante inusitada para cutucar ainda mais essa ferida
ainda aberta em nossa sociedade, que é o racismo.
A história acompanha Chris
(Daniel Kaluuya), um jovem negro, que está prestes a conhecer a família de sua
namorada branca Rose (Allison Williams). Ao chegarem o comportamento dos pais
de Rose é totalmente amável, mas com o passar o tempo, Chris nota que a família
esconde algo extremamente perturbador.
O filme é bastante simples
e enxuto, não trazendo absolutamente nada de novo para o gênero do terror, a
famosa cartilha de hollywood é seguida à risca, mas ao utilizar o racismo como
pano de fundo, tudo mudo e acaba transformando em uma obra única. O roteiro nos
faz querer entender as atitudes dos personagens, que aos poucos vão sendo
reveladas, e assim como o protagonista Chris, o público também fica tentando descobrir
o que há de errado naquele lugar e a sensação de que a qualquer momento algo de
errado pode acontecer é muito bem construída pelo diretor. Um destaque merecido
é a corajosa escolha para o desfecho final da obra, primeiro pela atitude de um
determinado personagem e também pela escolha nada obvia de seguir o caminho
final.
Só que por um outro lado, o
roteiro infelizmente fica preso em sua zona de conforto e em diversos momentos
ele se torna muito didático ao revelar os segredos da família, fato esse que
pode acabar afastando uma parte do público da história, mas como sabemos que é
uma obra comercial e o público norte-americano consome produções desse estilo,
porque mudar.
O outro acerto que o longa
tem é o seu elenco, composto basicamente por rostos quase desconhecidos e todos
dão um show à parte. Allison Williams (Girls), nos surpreende e nos entrega uma
performance melhor que a do seriado, o protagonista vivido por Daniel Kaluuya
também consegue nos entregar uma performance acima do nível e o ator Lil Rel
Howery, que consegue dar um alivio cômico, mas que ao mesmo tempo causa um
pouco de cansaço, já que em algumas partes a comédia se sobrepõe no terror.
A trilha sonora mescla
basicamente soul music e instrumentais nas cenas de tensão, o que acaba
contribuindo positivamente para a narrativa, que vai crescendo ao longo da
produção. Ainda merece um destaque a mais, a ótima direção de arte e também o
figurino, que muitas vezes nesse gênero passam bem despercebidos, aqui eles são
peças fundamentais e fazem parte de uma virada na história.
Corra! é uma obra importante
para o cinema atual, mesmo ele caindo algumas vezes no clichê, ao final da
projeção certamente você vai ficar pensando alguns dias sobre como precisamos
evoluir como sociedade.
Nota: 8.5/10
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