Mais uma adaptação está chegando essa semana nos cinemas brasileiros, dessa vez fugindo um pouco do esteriótipo juvenil, temos a estreia de A Garota no Trem, longa que é baseado no livro da autora Paula Hawkins e que chocou o mundo em 2014. Aqui por mais que ele lembre em alguns momentos Garota Exemplar, devido ao seu jogo narrativo, ele consegue caminhar com as próprias pernas em outros temas que são abordados.
O longa acompanha de maneira não linear a história de três mulheres, Anna, Megan e Rachel, sendo esta última a narradora dos eventos retratados. Todas elas possuem conexão entre si; Rachel é ex-mulher do marido de Anna, que tem Megan como babá de sua filha, com a última observada todos os dias por Rachel através do trem que passa em frente a sua casa. Apesar dessa relação, o que conecta as personagens é um turbilhão de violência, de traumas e um profundo sentimento de não pertencimento, na qual todas se sentem alheias a este mundo. Até que Morgan desaparece e de alguma forma Rachel e Anna estão envolvidas com este fato.
A Garota no Trem é o tipo de filme que depende muito da maneira que vai ser construída sua narração, de como ele vai mostra, mesmo que indo e voltando no tempo, os fatos que possam surpreender aqueles que estão presos em sua trama. Nesse ponto, quem se destaca é a nossa protagonista Rachel, já que ela é quase uma personagem onipresente, já que hora ela narra em primeira pessoa ora narra em terceira pessoa. Devido ao seu grave problema com o alcoolismo, a personagem se torna uma investigadora de suas memórias retorcidas para solucionar seus problemas, como se tudo isso conduzisse as diversas informações que vamos recebendo ao longo da trama, esses apagões que ela tem são as melhores partes do longa.
Talvez o ato mais problemático seja o terceiro, já que devido a tantos flashback acaba tirando alguns momentos de tensão ou alguma cena chave para o desenvolver da trama.
A direção de Tate Taylor (do aclamado Histórias Cruzadas) tem seus altos e baixos, ele consegue ser hábil ao construir uma atmosfera bastante tensa, o que acaba chamando realmente a atenção do espectador porém ele não consegue construir uma relação 100% fiel entre os personagens e o público. Outro fato que acaba incomodando é o uso desnecessário de slow motion em diversas cenas dramáticas ou as cenas embaçadas quando Rachel está bêbada.
Talvez seja por isso que a adaptação de A Garota no Trem não seja tão impactante e surpreendente quanto Garota Exemplar. Essas irregularidades faz com que o público tenha mais interesse no que realmente se sai bem, que é o estudo das três personagens principais. Ou seja, o público vai escolher por quem torcer, qual dessas três mulheres vai conquistar a simpatia e a antipatia deles com seus diferentes traumas e histórias. O longa através de uma montagem muito bem feita, o close vai de uma personagem a outra como se fossem a mesma pessoa. Rachel, Morgan e Anna na verdade são a mesma face de um sentimento, que acabam compartilhando mais do que elas possam imaginar.
O elenco todo está de parabéns porém quem merece todo o destaque é a Emily Blunt, com suas nuances e viradas de sua personagem. Aqui a atuação dela não está no visual e sim na parte física, já que ela vai se revelando suas fragilidades através de suas feições e gestos, para construir aos poucos uma mulher forte e convicta, e isso realmente funciona dentro do longa. Haley Bennett (do recente Sete Homens e Um Destino e Marly & Eu) consegue se sair melhor que a atriz Rebecca Ferguson (de Missão Impossível: Nação Secreta), que abusa das caras e bocas para compor sua personagem, que mais parece ter saído de uma novela mexicana. Vale destacar também a atriz Allison Janney, que consegue compor muito bem o papel da investigadora e principalmente mostrar um outro lado da atriz que é conhecida principalmente por seus papeis na comédia. No lado masculino, infelizmente ninguém se salva, os três personagens que estão envolvidos na trama soam como diversas vezes forçados ou parecem que estão no piloto automático.
A Garota no Trem tem seus problemas sim mas nada que atrapalhe o clima de tensão que o filme cria desde o começo. Preparem-se para ficar presos por quase duas horas em uma história onde quando achamos que estamos perto de saber a verdade, tudo pode mudar num piscar de olhos.
Nota: 8.0/10
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