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Críticas

Crítica - O Quarto de Jack


A alegoria da caverna desenvolvida por Platão e escrita em seu livro, A República, é uma das melhores lições fornecidas pela filosofia grega. O mito talvez tenha uma mensagem tão impactante sobre a percepção humana do que é “real”, que o cinema mais tarde resolveu beber dessa fonte e nos entregar ótimos trabalhos. Dentre os trabalhos que usaram o mito podemos destacar: O Show de Truman, Ilha do Medo, Ex-Machina e o que muitos consideram o melhor filme a explorar essa teoria, Matrix. Eis que os cinemas então recebem mais um longa que tem como base o mito, estamos falando de O Quarto de Jack. 

 
A trama acompanha Joy (Brie Larson) e seu filho Jack (Jacob Tremblay), que vivem isolados em um quarto. O único contato que ambos têm com o mundo exterior é a visita periódica do Velho Nick (Sean Bridgers), que os mantém em cativeiro. Joy faz o possível para tornar suportável a vida no local, mas não vê a hora de deixá-lo. Para tanto, elabora um plano em que, com a ajuda do filho, poderá enganar Nick e retornar à realidade. 


Ao contrário do que seria cotidiano para uma pessoa normal, Jack e Joy vivem confinados em um quarto e sem ter nenhum contado com o mundo e muito menos com as pessoas. Para o menino, Jack, o quarto é o seu mundo, pois ele nunca conheceu o mundo externo. A realidade do menino está limitada a pia, ao armário, a cama, a geladeira, a televisão e a claraboia que ilumina o pequeno aposento. Mas quando garoto finalmente faz cinco anos de idade, Joy decide que chegou o momento de escapar do confinamento. 

 
A adaptação de O Quarto de Jack para o cinema conta com um grande fato, que a autora do livro, Emma Donoghue, é a responsável pela adaptação do roteiro do longa. Ou seja temo um material bastante fiel ao livro, talvez um pouco menos detalhado mas sempre vamos acompanhando o desenvolver da historia pelos olhos de Jack. Donoghue consegue tratar temas e situações tão complexas de uma maneira tão sutil, que em momento algum ficamos incomodados com o que está ocorrendo. Outro ponto positivo, é que diferente de outros longas, aqui Jack não é romantizado e muito menos fantasioso, ele é uma criança normal e que age de acordo com a idade que ele tem. 

 
Jack é um personagem encantador, ele soa como uma criança e não como um adulto em corpo de um menino. Ele faz birra, chora, tem seus momentos de egoísmo, nega a verdade, ou seja, ele na verdade não é perfeito e maravilhoso. Em momento algum, Emma Donoghue romantiza o personagem, assim Jack não torna-se uma criança insuportável e chata, como tantas são em certos longas. 

 
Não se enganem pelo pôster de O Quarto de Jack, os temas tratados no longa são muito mais complicados e sombrios que imaginamos. O público descobre isso no segundo ato do longa, quando enfim a verdade vem à tona. Sabemos então que Joy na verdade foi sequestrada e vive presa em um cativeiro a anos. Como o ponto de vista do filme é todo pelos olhos de Jack, Donoghue, resolve tratar com sutileza os horrores que Joy passa nas mão do Old Nick, seu sequestrador. O personagem apesar de ser interessante e complexo, acaba sendo mal aproveitado, principalmente no desfecho da fuga de Jack como na conclusão do destino do personagem. 

 
O diretor do merece também o destaque pelo magnifico trabalho com o elenco. Abrahamson consegue tirar o melhor do jovem ator Jacob Trembley, o pequeno Jack. A atuação do menino é impecável e capaz de até mesmo ofuscar o talento de Brie Larson. Fazia um bom tempo que não tínhamos um ator mirim tão bom como Jacob é, ele acerta em praticamente todas as cenas. Ele consegue de uma maneira assustadora entrar na realidade do personagem. Assim fica fácil de comprar a ideia que Jack nunca viu o mundo do lado de fora do quarto, somente pelos olhares assustados e acuados do ator. Se no começo do filme, ele apresenta uma figura encantadora de um menino inabalável e apaixonado pela vida mesmo que essa vida seja um quanto tanto deprimente. Porém quando Jack consegue fugir do quarto e passa a se recuperar do trauma e do choque de realidade, Trembley, consegue desenvolver a mistura perfeita entre o medo, aversão e a fascinação por tudo aquilo que o cerca. 

 
Podemos dizer que o Oscar praticamente deu uma colher de chá para Leonardo Di Caprio e seu O Regresso, porque se Jacob Trembley tivesse sido indicado por seu papel, certamente ele seria a grande pedra no caminho de Di Caprio. Infelizmente essa foi mais uma das mancadas que a Academia as vezes comete. Há quem diga que Trembley não foi indicado, por terem reconhecido o mérito a performance excelente de Brie Larson, que com certeza levará seu primeiro Oscar. 


A trilha sonora de Stephen Rennicks nos oferece temas memoráveis, transformando o longa em uma experiência um tanto quanto emocional. 

 
O Quarto de Jack é disparado um dos melhore filmes nessa corrida do Oscar 2016. Com uma direção impecável, que consegue com sensibilidade deixar todos os horrores dessa história nas entrelinhas dessa linda história de amor entre uma mãe e um filho. O longa acerta em transportar os espectadores para dentro da história afinal essa é a mensagem do filme: o amor incondicional, imortal, pleno e infinito. 

Nota: 9.5/10

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