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Crítica: Os Órfãos


Se fossemos caracterizar o cinema de gênero teríamos que destacar diversos itens (que por muitas vezes são chamados de clichês) que acabam limitando a obra devido a uma determinada classificação. Por exemplo, no gênero da ação temos as lutas coreografadas, as perseguições insanas, tiros e explosões, no musical eles acabam ensinando que todas as pessoas sabem dançar e cantar muito bem. Não quero dizer que esses elementos acabam diminuindo uma longa-metragem, pelo contrário, quando eles são utilizados de uma maneira coerente conseguem se sair muito bem. Porém não é o caso desse recente filme, Os Órfãos, onde tudo isso que falamos é posto de uma maneira totalmente equivocada.


Quando a jovem professora Kate (Mackenzie Davis) é contratada para trabalhar como governanta em uma antiga mansão, ela acredita que poderá fazer a diferença na vida da órfã Flora Fairchild (Brooklynn Prince). Porém, ao chegar no local, Kate começa a perceber que estranhos fenômenos acontecem ali, principalmente quando Miles (Finn Wolfhard), irmão mais velho de Flora, retorna subitamente para a mansão da família.


A direção de Floria Sigismondi (do péssimo The Runaways: Garotas do Rock) parece estar mais preocupada em seguir à risca a cartilha de filmes de terror, do que realmente desenvolver sua trama principal. Tanto que Floria não perde tempo em apresentar os clichês de filmes sobre mansões mal-assombradas, apenas com o intuito de comunicar-se com o público, é como se ela estivesse desesperada tentando dizer “olhem isso é um filme de terror”. Ou seja, vamos de um prólogo que em algum determinado momento vai ser explicado, para uma garota que resolve aceitar um emprego onde ela tem que se meter numa mansão do século 17 no meio do nada. Além disso, existem uma velha, crianças subitamente estranhas, manequins assustadores e portas que ficam rangendo. Tudo ali está para tentar transformar aquele ambiente em algo assustador, o que em algum momento pode vir a acontecer, mais por conta do exagero do que a direção mal executada de Sigismondi.


Fãs menos exigentes não vão reclamar de absolutamente nada. Os sustos podem ser garantidos, embora em diversos momentos são bastante previsíveis. Mas essa opção de entregar uma história de terror mais preocupada com os elementos do que propriamente a trama acaba mostrando ser um total desserviço à própria construção da obra, que acaba com que nem mesmo a plateia consiga se apegar. É apresentado tantas situações clássicas do gênero, que acaba fazendo com que o filme não desenvolva nem metade daquilo que surgiu em tela. Os cômodos com uma ambientação macabra vão se tornando inúteis após terem servido para o seu propósito.


Toda essa dificuldade apresentada em criar uma trama coesa é só reforçada devido a sua montagem totalmente confusa, e que não possui nenhum propósito. Em diversos momentos é bem provável que você irá se questionar se tudo aquilo foi ignorado ou se realmente o filme está apresentando algum problema. Quando chegamos nas sequências finais, a diretora acaba optando por retornar uma possibilidade levantada no meio do filme, mas isso acaba deixando o longa com um final totalmente intragável e ambíguo.


Sobre o elenco é possível dizer que nenhum deles consegue realmente se conectar com aqueles personagens. A protagonista defendida por Mackenzie Davis é absolutamente confusa, chata e em diversos momentos fica impossível sentir um pouco de carisma por Kate. Por outro lado, Brooklynn Price consegue fazer muito bem a vez de criança que vê o sobrenatural. Price tem uma doçura em seu olhar, mas que esconde ao mesmo tempo todo aquele medo do que esta por vir. Agora Finn Wolfhard está repetindo quase os mesmos trejeitos e falas que seu personagem em Stranger Things, nem mesmo em It A Coisa ele esteve tão insuportável, como aqui.


Os Órfãos só mostra que seguir à risca todas as convenções de um único gênero não é a garantia de realizar um ótimo filme. Talvez por querer se levar a sério demais, o trabalho mais recente de Flora Sigismondi soe como desinteressante para o público geral e que acaba se utilizando do gênero para entregar uma obra vazia e de sustos bem rasos.


Nota: 2.0/10

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