Falar sobre religião é sempre um assunto polêmico. Nos cinemas, por mais que ele seja tratado com delicadeza, sempre levanta infindáveis debates e discussões. Chegando ao Brasil em março, Silêncio, novo filme de Martin Scorsese, é um dos projetos mais pessoais do diretor e deixa aqui o crime e a máfia, para falar sobre fé e seus questionamentos.
Apesar de ser pouco conhecido aqui no Brasil, o longa-metragem é uma adaptação do livro homônimo escrito por Shūsaku Endō em1966, apontado como um dos melhores romances históricos do século XX e abertamente uma das obras literárias mais relidas por Scorsese. A história acompanha a viagem de dois padres portugueses ao Japão, durante o século XVII, para reencontrar seu mestre que, segundo informações, teria renunciado sua fé cristã e estaria vivendo conforme os costumes locais (em uma região onde a prática do cristianismo era severamente repreendida pelas autoridades japonesas).
Ao lado de uma bela fotografia de Rodrigo Prieto que, juntamente com o competente design de produção Dante Ferretti, dão ao longa-metragem um aspecto de clássico a toda narrativa, ou seja, Silêncio se torna uma obra tanto visual quanto impecável. As cores dos quadros acabam sendo ofuscadas por um profundo aspecto de neblina, o que reafirma o tom mórbido que a trama conduz. Scorsese abandona praticamente qualquer o uso da trilha musical, o que nos leva a ter um dos melhores trabalhos de edição e mixagem, e como o próprio título do filme sugere, o silêncio existe, e quando surge temos grandes momentos de tensão e além de permitir que o espectador possa refletir sobre o que de fato está acontecendo em tela. Vale destacar que a direção de Scorsese vai muito mais além, destacando a performance espetacular do elenco, principalmente em Andrew Garfield . O ator se entrega de corpo e alma para esse personagem, além de nos entregar uma de suas melhores atuações até o momento. O ator vem crescendo a cada ano.
Mas onde realmente o filme se torna um espetáculo: no seu desenvolvimento. A história caminha sem pressa, dando tempo necessário ao longo de suas quase três horas de duração para que tudo transcorra de uma forma mais abrangente. Mesmo que para algumas pessoas o filme passe um tom mais xenofóbico, Silêncio se torna um filme que incomoda e faz com que o espectador saia de sua zona de conforto para refletir. Já que estamos vivendo uma época onde os discursos religiosos vêm acompanhado de ódio, Silêncio nos convida a questionar a fé, independente qual seja a sua religiosidade.
Silêncio é o trabalho de uma vida do
diretor Martin Scorsese e graças a isso, somos contemplados por uma experiência
cinematográfica única. Esnobado pela Academia, Silêncio deve se tornar um
clássico dentro de alguns anos, já que é um dos trabalhos mais importantes
desse grande diretor.
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