O cinema argentino diferente do brasileiro sempre nos presenteou em suas estreias por aqui com historias repletas de dramas e muito suspense. Em 2015, nenhum filme argentino ainda tinha conseguido conquistar os brasileiros como “Relatos Selvagens” havia feito no ano passado, mas chegando de mansinho e conquistando a todos no Festival do Cinema do Rio, “O Clã” chega pra mostrar uma historia madura, real e acima de tudo assustadora.
A história segue a vida de Arquímedes Puccio
(Guillermo Francella), que, juntamente de seus dois filhos e alguns amigos
sequestram membros de famílias ricas a fim de conseguir quantias absurdas com o
resgate. A tensão familiar, contudo, assume uma reta crescente, conforme os
sequestrados, ao invés de serem liberados, são assassinados a sangue frio. Com
uma narrativa que segue em dois tempos distintos – uma no momento da captura
dos criminosos e outra no passado – assistimos o que levou à falha do esquema
nefasto de Arquímedes e a destruição do clã.
Com aproximadamente 108min, o diretor argentino
Pablo Trapero, que já havia dirigido dois brilhantes filmes, Elefante Branco e Mundo Grua, nos entrega aqui o seu melhor trabalho como
diretor. A sua direção segura nos
entrega momentos tenso e capazes de deixar os espectadores quase sem fôlego
dentro da sala de cinema, mesmo sendo um filme onde a há ação é quase que
onipresente. O diretor também assina o roteiro e por isso, a crescente tensão
do filme é vista ao longo da projeção. A medida que a história de Arquímedes
vai se fechando, os momentos também e assim sufocando cada vez mais o
espectador, que fica preso em uma história realmente perturbadora.
O elenco do longa é um grande acerto,
principalmente pela escolha dos dois atores a viverem os grandes protagonistas
do filme: o veterano Guillermo Francella e o jovem galã, Peter Lanzani.
A construção do personagem vivido por Francella é
assustadora, pelo fato da maneira que o patriarca da família encara toda aquela
situação que está acontecendo com a sua família e também ao seu redor. Ele
nunca parece estar fora do controle e mesmo quando a polícia o prende, ele
jamais perde aquele pensamento calculista que ele tem. O personagem ainda
afirma com todas as letras, que tudo que ele fez foi para o bem de sua família.
Não há como imaginar um outro ator vivendo esse personagem, até mesmo porque a
maneira que o diretor construiu ele é única. Desde já o cinema argentino já tem
o seu maior vilão.
Outro ponto de destaque é o ambiente familiar que é
construido em meio a hipocrisia, já que toda a família “meio que sabia” que
acontecia ao seu redor mas fechava os olhos para não intrometer em assuntos que
não lhe correspondiam. Os gritos abafados das vítimas em meio as cenas de
jantar da família é algo único. A decupagem realizada por Trapero, nos mantém
agoniados e sufocados a cada cena que segue. Afinal quem não ficaria incomodado
com as maldades de um pai!
Voltando a falar do elenco, Peter Lanzani marca
finalmente a sua estreia nos cinemas argentinos depois de ficar famoso com a
banda TeenAngels surgida através da exitosa
série da Telefé, Casi angeles.
Diferente de Arquímedes, Alejandro, seu personagem, é a sobra da humanidade
perdida no personagem de Francella. Conseguimos enxergar em seu personagem uma
verdadeira e crescente angustia que o diferencia em muita coisa de seu pai, o
que nos leva a ver a construção perfeita para o seu personagem e o clímax da
historia. O final do personagem é a explicação perfeita de uma explosão de
sentimentos reprimidos conforme as vidas de todos ao seu redor estão
desmoronando.
O roteiro é tão brilhante que conseguimos enxergar
realmente aquilo que aconteceu. Os Puccios foram vítimas da mente traiçoeira de
seu patriarca e a narração escolhida deixa evidente isso, quando apresenta cada
um dos personagens envolvidos no texto. Porém esse acerto acaba revelando um
lado negativo para trama. Já que acaba dando um timing mais lento para o filme,
mas nada que possa prejudicar o rendimento e a entrega desse longa.
O Clã é mais
uma prova que o cinema argentino consegue nos entregar em um curto período de
tempo obras tão cativantes e marcantes, que fica difícil de escolher uma só.
Com um elenco promissor, uma direção inteligente e um roteiro afiado, podemos
dizer que O Clã é uma das melhores
surpresas em nosso cinema no ano de 2015.
Nota: 9.5/10
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