Adaptação de best-seller nacional é quase que um capítulo especial de uma novela das 18h
Quando anunciaram uma adaptação de uma obra do Augusto Curry, fiquei pensando: " Será que realmente é possível de realizar um filme baseado nos textos do autor?". Para quem não conhece, Curry é um dos nomes mais importantes da auto-ajuda brasileira e possuí uma grande legião de fãs. Estreando nesta quinta-feira, O Vendedor de Sonhos, adaptação do livro do autor, é na verdade uma sessão de clichês em um filme quase interminável.
A trama conta a história de Júlio César (Dan Stulbach), um psicólogo deprimido e desencantado com a sua trajetória de vida e opta por um ato drástico: tirar a sua própria vida. Porém, quando está bastante próximo de consumir o ato, Júlio César conhece um homem maltrapilho, apelidado de Mestre (César Troncoso), que além de salvar, juntos conseguem mudar a ideia das pessoas em relação a vida.
O roteiro do longa ficou por conta L.G. Bayão, o mesmo responsável pelo desastre O Último Virgem, e só comprova a teoria levantada na crítica daquele filme: Alguém o avisa que ele não sabe fazer um roteiro bom. Em O Vendedor de Sonhos, ele consegue se sair até melhor (o que não é tão difícil comparado ao filme anterior dele) mas o grande problema está nas frases dos personagens. Conseguimos notar que tudo que eles falam ali, em nenhum momento é de livre e espontânea vontade, mesmo sabendo que existem diversas ideias boas ali e alguns posicionamentos éticos e humanos, todas as palavras ditas e defendidas pelo Mestre soam extremamente forçadas.
No começo do filme, quando estamos assistindo a cena do parapeito, temos a sensação que não estamos assistindo a um longa-metragem e sim um teatro ou qualquer coisa parecida. E quanto mais a jornada dos personagens vai avançando, mais somos obrigados a embarcar em uma chata, cansativo e longa palestra motivacional. Mas eis que chega o ponto de termos uma subtrama, envolvendo carros, perseguições e tiros, é exatamente nesse ponto que o bolo literalmente desanda.
Quando estamos no clímax do filme, onde era para acontecer uma tensão ou uma reviravolta, simplesmente somos apresentados a uma sequencia tão mal feita e tão mal apresentada, que fica a torcida que ela seja a última cena do longa e que ele acaba o quanto antes.
O filme estreia uma semana depois de uma tragédia que mexeu com todo o país e mesmo não sabendo que isso ocorreria, o diretor realizou uma cena que certamente vai dar um nó na garganta ou até mesmo fazer você pensar duas vezes se você realmente precisava estar ali.
Os pontos positivos existem e eles estão principalmente na direção de Monjardim, que novamente nos apresenta novamente uma fotografia bastante correta e uma direção, que mesmo apresentando alguns erros, consegue ser de um nível bastante elevado e o ator Dan Stulbach, que mesmo tendo em mãos um dos seus piores papeis, consegue transmitir uma humildade só no olhar. Enquanto isso, César Troncoso, que arrancou elogios de todos em O Banheiro do Papa, está sem alma e sem emoção nesse filme. Além de sofrer uma péssima caracterização, que deixa até mesmo a Record TV orgulhosa de seus figurinos bíblicos.
O Vendedor de Sonhos não é um filme para todos e sim para aqueles que conhecem o trabalho do autor e que estão dispostos a comprar as mensagens e lições que o longa/livro passam. Teríamos como ter um resultado melhor? Não sabemos, mas infelizmente o que temos em tela é uma novela das 18h da mais baixa qualidade.
Nota: 3.5/10
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